segunda-feira, maio 04, 2015

Aqueles


I

Sem deixar vestígios, eles foram embora.
Mas ela resolveu ficar no meio do caminho. No meio do nada.
Você vai ficar sozinha?, ele perguntou.
Sim. Por quê?
Eu também.
Também vai ficar?
Também vou ficar sozinho.
E sozinhos ficaram.
No meio do caminho.
No meio do nada.



Chegaram.
Ele, a escreve com os olhos.
Olhares desapercebidos. Fingidos.
Acredita ele que ela não percebe. Talvez.
Desenha curvas, sorrisos e memórias. Com entreolhares.
Eles não conversam como sempre. Agora, como nunca.
Quem por perto está, nada percebe. Eles são quase inexistentes aos comuns.
São comuns demais. Quase anônimos. Quase inexistentes. Um ao outro. Um a si. Eles.

II

Um beijo, disse ele.
Ela fez um silêncio como quem negava.
Eles se estranharam, pensei. Mas não havia nada de estranho ali.
Era mais um dos tantos momentos em que os corpos se uniam sem se tocar.
Sorrindo satisfeita, ela disse: outro.

Então, fiquemos como estamos, tá?
Tá. Então, fica?
Fiquemos.


III

Ela seguia, feito um cão vadio faminto.
Seguindo seu destino pelo próprio faro.
Não sentia fome, nem medo, nem frio. Nem nada.
Aliás, sentir não fazia parte de seu percurso.



IV

Beijos sem promessas
Era o que tinham naquela noite
Mas algo se fazia entre eles naquele vazio.
Não era de se compreender. Mas de acontecer.
Cada toque. Cada beijo. Cada qualquer coisa.
Naquele instante, eles se pertenciam entre si.
Sem ser de ninguém...


V

Ele nunca se lembra.
Ela sempre se esquece.
Ele tem passado.
Ela tem passado.
Eles não têm presente.
De longe,
Acenam para o futuro embaçado.



VI

Era meio carinho aquele silêncio dela.
Ele não compreendia. Sem saber, achava ser indiferença.
E preferia acreditar no sorriso ordinário lançado à multidão todos os dias.
Eles não sabiam conversar.

Se olhavam constantemente, mas não se viam.
Triste, não?! Que nada... Era a forma que eles encontraram de se perder por caminhos estranhos.
E a cada minuto viviam um fim.
Um fim que recomeçava a cada reolhar...


VII

Ela sente saudade daquilo que não lembra
Lembra daquilo que nunca existiu.
E deseja tudo o que inventa.


VIII

Calada, olhando para ele, ela perguntou:
- E essa dor, meu amor?
- Logo passa, ele respondeu sem nada dizer.
- Como?, ela suspirou.
(um beijo)
Foi quando quebrou o vidro de silêncio que havia entre eles. Continuaram.



[continua]

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