quarta-feira, dezembro 02, 2009

Limpeza


O armário cheio de bagunças da vida

Um amor pra guardar.

Bem guardado, de fato.


- Arrumar certas desordens desordena certas arrumações.


Da vida.

Desempoeirá-lo. E desamar...

Desamar com cuidado.

É um velho e maltrapilho amor.


Guardá-lo novamente.

Limpo.

Porém, velho.

Ainda, amor.


Um limpo velho amor.


(Des)amo.


Guardo.


E a desordem do armário cai em descanso.

Não por muito tempo.


- Próximo inverno: nova faxina.


Novas poeiras.


sábado, agosto 22, 2009

Eterna construção


meus passos
minhas esperas
e meu cansaço.

minhas dores
minhas lágrimas
e meus amores

meu espaço
minha crença
e meus abraços

meus gritos
meu afago
e meus amigos (e inimigos)

meu sorriso
minha saudade
e meu silêncio.

meu fim
minha angústia
e meu começo

meus sim’s
meu talvez
e meus “não sei”s.

meu amargo
minha velhice
ah, e(is) minha liberdade.

minha construção....

quinta-feira, julho 23, 2009

Receita


500mL de caos


1 xícara de chá de medo

2 colheres de sopa de ódio

200mL de sorriso

150g de olhar

100g de saudade

2 pitada de humor

1 gota de mentira.

segunda-feira, março 16, 2009

sinônimos.

.

Ele: Me faltam palavras pra dizer o quanto eu te amo.


Ela: Aqui.

Ele: O que é isso?

Ela: Um dicionário de sinônimos.

.

sábado, março 14, 2009

Outr 0

Hoje eu me senti diferente.
Eu me senti um outro.
O outro.

Não um outro eu.
Um eu-outro.

Eu não era ele.
Eu não era dela.
Era apenas um outro.

Meus dias seguiam normal. Ordinários.
Os dela também. Ela nunca me disse. Mas eu sabia.
Dias femininos e ordinários.

Os olhos dela sorriam para mim.
Mas hoje eles, simplesmente, nada me fizeram.
Até cheguei a acreditar que fossem chorar-se diante dos meus.
Pobre engano.

Eles estavam baixos.
Esquivos.

Não me escondiam nada.
Mas também não me traziam nada.
Nada de novo.
Nada de velho.
Nada que eu pudesse esperar.

(des)esperar por ela.

E ali eu fiquei.
Diante daqueles olhos.
Em silêncio.

Aqueles olhos já não eram meus.
Aliás, nunca o foram.
Dele, talvez, sim.

Mas ele nem os conhece tão bem quanto eu.
Eu, sim, conheço aqueles olhos.

- Ah, deixa disso!
Como podes conhecê-la tão bem?
Cala-te e levas teu casaco.
És outro.
Apenas, o outro.

Não! Eu sou aquele que a conhece!

- Não!
És aquele que sonhas em conhecê-la.
Que sonhas em amá-la.


- Agora ela está indo embora.

Mais um casal em meio a multidão.
Sorriso nos lábios.
Felicidade fácil.
Anônimos.
Amantes.
Felizes.
Dois.
Um.

- E você?

zer0

quarta-feira, março 04, 2009

almas gêmeas

- ouve-se o primeiro sinal.

Ele está sentado.
Ela está sentada.

- o segundo sinal chega ao fim.

Ele parece dizer algo.
Ela parece dizer algo.

- o terceiro e último sinal.

Ele nada ouve.
Ela nada ouve.

- abrem-se as longas e pesadas cortinas vermelhas.

Eles estão ali. (sozinhos)

Algo passou.
Ele olhou.
Ela olhou.
Mas não viram.
Talvez o tempo, talvez o trem. Talvez ninguém.

Ele não sabe sorrir
Ela não sabe dizer
Ele a faz sorrir
Ela o faz falar
Eles sorriem. (sozinhos)
Eles conversam. (com quem)

Ele tem segredos.
Ela tem mentiras.
Eles têm histórias.
Ele não diz nada.
Ela não diz nada.


Eles não têm história.

Uma canção toca.
Eles não escutam.
E a canção para de tocar.

Ainda estão sentados.
Ele quer levantar.
Ela quer levantar.
(ir embora)

Ele nunca se lembra.
Ela sempre se esquece.
Ele tem passado.
Ela tem passado.
Eles não têm presente.

Eles não se sentem.
Eles não se olham.
Eles (se) amam.

Eles não sentem.
Eles não olham.
Eles (não) amam.

Óh, eles foram feitos um para o outro!

Pois bem,
Eis a minha decisão, caro leitor:
Eles foram (serão) felizes para sempre.

Ainda que o silêncio
seja o máximo de diálogo que ali possa existir.

E a única presença,
o vazio.

terça-feira, janeiro 27, 2009

casamento

quero casar-me com a Morte.

numa tarde de domingo ensolarada.
pessoas estarão ao meu redor
jogando preces ao vento.
gotas de lamentos cairão sobre meu véu.


casar-me-ei em prantos de alegria
suspiros de angústias e sorrisos gélidos

marcha... marchas... marcham...

estão todos esperando
(-me)