quinta-feira, dezembro 06, 2012

Um breve diálogo

-E então, como foi lá?

-Estranho...

-Como assim "estranho"?

-Vazio.

-Vazio depois lá?

-Vazio em mim.


(silêncio)


Lá me apelidaram de "andarilha ausente".

Caminhava todos os dias de um lado a outro num cubículo de 1 metro quadrado.

Às vezes, eu tinha a impressão de que eu não estava lá.


Não era o silêncio que me incomodava...muito menos o barulho. Era o nada.

O vazio que não tinha tamanho.

Nos primeros dias até recebi algumas visitas,

mas com o passar do tempo...ninguém.


Esperar já não estava em minha rotina.

Aliás, nada mais estava em mim.


- No que você pensava enquanto estava lá?

- Na luz; e na ausência dela.

Já parou para observar a luz? Há quem diga que ela esclarece, elucida, ilumina...

Mas, em demasiado, ela cega.


E a escuridão, a qual muitos temem...

Com o passar do tempo nos acostumamos a ela,

somos forçados a reparar com mais intensidade nas coisas;

e consequentemente, enxergamos melhor.


- É...estranho mesmo.


- Estranho somos nós, não as coisas.Que são simplesmente coisas.


- E agora?


- E agora o quê?


- Agora...?


- Acho que chegamos.


- Éh, chegamos.


(fim de um interminável silêncio)

Madrugada deles




Ele dorme muito cedo. Não a vê se levantar para sair...
Ela sai. Sai sozinha. Vai dançar com seus poemas.
Em silêncio, ela canta-lhe canções esquecidas
Esquecidas pelo tempo e pela correria ordinária do dia.
Um dia de sol é um belo dia; mas, para ela, é barulhento.
Barulhento demais para escutar suas canções em silêncio.
Ele, ao final do dia, adormece.
Cansa-se do dia de sol. Pouco conhece a noite.
Para alguns, a Madrugada é quase uma estranha. Ela não se importa.
Gosta de estar sozinha com a Madrugada.
Gosta de ser sozinha na Madrugada
Gosta de ser Madrugada.
Gosta de ser.
Ele dorme muito cedo, ela pensa.
Mas sorri secretamente enquanto observa-o dormir.
Sozinha e acompanhada, ela dança com seus poemas.
Dança em versos livres
Dança livre...


quinta-feira, novembro 01, 2012

Penso




Meu silêncio é o sorriso da minha Liberdade.
Que entre frestas de cada palavra dita, observa o barulho do mundo.


Não serei aquele a cantar frases belas nem desejos de ordem.
Canto meu próprio silêncio por onde berro todos os meus segredos.


Sento-me à sombra de minhas dúvidas, que amontoadas formam um aconchego.
Minhas certezas? Pouco me servem.
São inquietas e ordinárias. Mas me fazem companhia.


Há quem pense que nada penso... pensam tanta coisa que não penso!


Penso que talvez um dia minhas dúvidas se cansem, e fujam com minhas certezas.
O que me restará será o silêncio.
Esse não me abandona, pois já nasceu abandonado e a abandonar.
Silêncio que não é meu e de quem não sou.


Silêncio livre.


Livre silêncio.

Implosão

Sinto-me despida.
Despida de dentro pra fora.
Algo que invade, causa tumulto
Pequenas explosões. E sai.
Sai rasgando, rompendo minha pele de proteção
Onde guardo todas minhas certezas, dúvidas e medos.
Sinto-me despida.
Implodida por mim mesma.
Pois tive um dos meus eus encontrado.
Que ao ser revelado, indefeso ficou.
E resolveu fugir. Correr por caminhos inexistentes.
Despida de mais um eu.
Mas ainda eu.
Se sinto dor? Não. Não há mais espaço para sentimentos por aqui
O vazio presente é a imensidão da ausência.
De um eu descoberto, revelado. Desvendado.
Eu que corre. Que foge. Que rompe. Que rasga.
Eu que explode por dentro.
Eu que implodo.
Eu que fui.
E ainda
Fico
Eu.

Transeuntes



De onde vêm?
Pra onde vão?
Parece clichê, não é?
Então experimente me responder.
Experimento me perguntar
Dúvidas são sempre assim. São
Transeuntes. Passam. Olham. Riem. Vivem
Sobrevivem. Transeuntes. Não sei quem são.
Apenas transitam e transam com a rotina
Mas são amantes do Tempo.

Egocentrismo



Eu. Ali, no meio daquela gente.
Gente desimportante, porém imprescindível.
Imprescindível para o meu anonimato construído.
Que me faz ser quem sou. Um ninguém no meio de alguns.
Um ninguém de alguém do que sou o bastante suficiente para o nada vazio. Eu.

quarta-feira, maio 23, 2012

(Des)perdida


Daquela vez não havia respostas, nem perguntas.
Apenas procura.
Ele a procurava no caminho que outrora seguiam.
Mas que por um tropeço, se perderam, perderam-se.
Perderam-se um ao outro.
Em cada toque, em cada gesto, em cada fala... ele a procurava.
Sua aflição pouco era percebida por ela.
Que indiferente, ali não estava. Parecia não estar.
O caminho havia se perdido.
Tocava-lhe a pele rígida, porém insensível ao seu toque.
Ela não sentia.
Debruçava-se por cada palavra vinda de sua boca.
Mas eram palavras mudas. Nada diziam.
Ela não dizia.
Buscava-lhe nos olhos abertos e atentos. Neles, talvez, restasse o mapa do caminho.
Em sua procura ouviam-se gritos. Era um desespero em silêncio.
Ele sentia. Estava perdendo-a.
Segurou sua mão como num ato de socorro. Segurou firme.
Ela, não sentiu. Soltou-lhe por entre os dedos, desapercebidamente.
Em meio a gestos, falas, olhares e toques...
Ela não estava fugindo. Estava, apenas, seguindo.
Qual o caminho?
Não se sabe.
Sua única certeza... estava só.
Sem mapas, sem estrada, sem caminho.
Só a si.