Hoje eu me senti diferente.
Eu me senti um outro.
O outro.
Não um outro eu.
Um eu-outro.
Eu não era ele.
Eu não era dela.
Era apenas um outro.
Meus dias seguiam normal. Ordinários.
Os dela também. Ela nunca me disse. Mas eu sabia.
Dias femininos e ordinários.
Os olhos dela sorriam para mim.
Mas hoje eles, simplesmente, nada me fizeram.
Até cheguei a acreditar que fossem chorar-se diante dos meus.
Pobre engano.
Eles estavam baixos.
Esquivos.
Não me escondiam nada.
Mas também não me traziam nada.
Nada de novo.
Nada de velho.
Nada que eu pudesse esperar.
(des)esperar por ela.
E ali eu fiquei.
Diante daqueles olhos.
Em silêncio.
Aqueles olhos já não eram meus.
Aliás, nunca o foram.
Dele, talvez, sim.
Mas ele nem os conhece tão bem quanto eu.
Eu, sim, conheço aqueles olhos.
- Ah, deixa disso!
Como podes conhecê-la tão bem?
Cala-te e levas teu casaco.
És outro.
Apenas, o outro.
Não! Eu sou aquele que a conhece!
- Não!
És aquele que sonhas em conhecê-la.
Que sonhas em amá-la.
- Agora ela está indo embora.
Mais um casal em meio a multidão.
Sorriso nos lábios.
Felicidade fácil.
Anônimos.
Amantes.
Felizes.
Dois.
Um.
- E você?
zer0