-E então, como foi lá?
-Estranho...
-Como assim "estranho"?
-Vazio.
-Vazio depois lá?
-Vazio em mim.
(silêncio)
Lá me apelidaram de "andarilha ausente".
Caminhava todos os dias de um lado a outro num cubículo de 1 metro quadrado.
Às vezes, eu tinha a impressão de que eu não estava lá.
Não era o silêncio que me incomodava...muito menos o barulho. Era o nada.
O vazio que não tinha tamanho.
Nos primeros dias até recebi algumas visitas,
mas com o passar do tempo...ninguém.
Esperar já não estava em minha rotina.
Aliás, nada mais estava em mim.
- No que você pensava enquanto estava lá?
- Na luz; e na ausência dela.
Já parou para observar a luz? Há quem diga que ela esclarece, elucida, ilumina...
Mas, em demasiado, ela cega.
E a escuridão, a qual muitos temem...
Com o passar do tempo nos acostumamos a ela,
somos forçados a reparar com mais intensidade nas coisas;
e consequentemente, enxergamos melhor.
- É...estranho mesmo.
- Estranho somos nós, não as coisas.Que são simplesmente coisas.
- E agora?
- E agora o quê?
- Agora...?
- Acho que chegamos.
- Éh, chegamos.
(fim de um interminável silêncio)